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A inteligência artificial (IA) tem assumido um papel cada vez mais crucial em várias esferas da sociedade, e a justiça brasileira não foge a essa transformação. Recentemente, a Inteligência Artificial Generativa (IAG) emergiu como uma força inovadora, capaz de produzir conteúdos de maneira automatizada, oferecendo potencial significativo para otimizar os processos judiciais e aprimorar a eficiência do sistema legal brasileiro.  

Continue a leitura e entenda como a IAG está impactando a justiça brasileira. Confira também os principais benefícios dessa tecnologia, os desafios e as  implicações éticas.

O que é a Inteligência Artificial Generativa (IAG)? 

A IAG refere-se aos sistemas de software capazes de criar conteúdos novos e originais e, acredite, muitas vezes é quase impossível distinguir do produzido por seres humanos. 

Esses conteúdos complexos e criativos podem se apresentar em diversos formatos, incluindo textos, imagens, áudios e até vídeos. No âmbito da elaboração de documentos, essa categoria de IA inclui modelos de linguagem avançados, como o GPT-4 (Generative Pre-trained Transformer 4) e o Llama 2 (Large Language Modelo Meta AI).

Todos esses modelos são capazes de gerar textos coerentes e relevantes a partir de objetivos definidos pelos usuários dessas ferramentas. Essa capacidade única tem implicações profundas para a justiça, desde a automação de tarefas rotineiras até a geração de argumentos legais complexos.

Principais Benefícios da IAG para a justiça brasileira 

Um dos principais benefícios práticos da Inteligência Artificial Generativa para a justiça brasileira é a capacidade de automatizar atividades jurídicas. Tarefas como a revisão de documentos, a análise de contratos e a triagem de processos podem ser realizadas de forma mais eficiente e precisa com o auxílio deste recurso. 

Isso não apenas reduz o tempo necessário para realizar essas tarefas, mas também minimiza o risco de erros humanos, contribuindo para melhorar a qualidade do trabalho. Outra vantagem é permitir que os atores do sistema jurídico se concentrem em questões estratégicas e de maior complexidade. 

A identificação de informações estruturadas em textos jurídicos é outra aplicação em que a IAG oferece benefícios significativos para o sistema judicial brasileiro. Ao identificar informações relevantes como endereços, datas, partes envolvidas, fundamentos legais e cláusulas contratuais, por exemplo, ela acelera o processo de análise de grandes volumes de documentos. Assim,  contribui para a precisão de elementos cruciais citados nos Autos dos processos judiciais. 

O resultado são processos mais ágeis e eficientes, mais ágil e eficiente, que beneficiam tanto os operadores do direito quanto os cidadãos que buscam acesso à justiça de forma mais rápida e eficaz.

A IAG pode ser utilizada também na proposição de minutas de peças, reduzindo parte da escrita mais repetitiva e permitindo que os profissionais do direito foquem nos aspectos mais criativos e intelectualmente desafiadores da elaboração de suas peças. 

Essa abordagem inovadora não apenas agiliza o processo de redação de documentos legais, mas também impacta positivamente a consistência e padronização, evitando erros comuns e garantindo uma linguagem jurídica adequada. 

No entanto, para todas estas aplicações, é crucial que a intervenção humana permaneça presente para revisar e validar as informações geradas pela inteligência artificial. Isso é indispensável para assegurar a conformidade com as normas legais vigentes e preservar a essência da advocacia como uma disciplina essencialmente humana.

Desafios e preocupações éticas da aplicação da IAG

Apesar dos benefícios potenciais, a introdução da IAG na justiça brasileira não está isenta de desafios e preocupações éticas. A dependência excessiva de algoritmos pode gerar desconfiança, especialmente se a população perceber uma falta de transparência no processo decisório. 

Essas preocupações estão presentes também em outros países: em uma pesquisa realizada pelo instituto Thomson Reuters em escritórios de advocacia nos EUA, Canadá e Reino Unido, 62% dos entrevistados revelou preocupação com o uso da IAG na justiça e apenas 51% acredita que ela deva ser aplicada no trabalho judicial.

Parte dessa insegurança é causada pelas limitações da própria tecnologia. As IAGs de produção textual, por exemplo, podem apresentar alucinações, que consistem na criação de informações falsas ou irreais. Modelos de aprendizagem de máquina desse tipo podem produzir textos que parecem plausíveis e verossímeis, mas que na realidade possuem informações parcial ou completamente equivocadas.

Além disso, a segurança dos dados é uma preocupação constante. Os sistemas de IA lidam com informações sensíveis e medidas rigorosas, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), precisam ser implementadas para proteger a privacidade das partes envolvidas em processos judiciais. Uma legislação específica sobre o uso de IA no contexto jurídico também precisa ser desenvolvida para preencher lacunas legais e proteger os direitos dos cidadãos.

Sendo assim, é crucial abordar questões éticas relacionadas à transparência e imparcialidade, uma vez que algoritmos de IA podem herdar e perpetuar vieses presentes nos dados de treinamento. O que reforça, desta forma, a importância de auditorias regulares e supervisão humana na utilização dessas ferramentas.

O que esperar do futuro no uso da IAG na justiça brasileira? 

O impacto da IAG na justiça brasileira é uma jornada em constante evolução. Conforme a tecnologia evolui e se torna mais integrada ao sistema jurídico brasileiro, é importante considerar as implicações dessa tecnologia para a justiça no país. A adoção crescente deste recurso pode resultar em avanços significativos na eficiência, acessibilidade e imparcialidade da justiça, oferecendo benefícios tangíveis para profissionais do direito e cidadãos.

Entretanto, é essencial que as instituições judiciais estejam preparadas para adotar essas inovações de maneira ética e responsável. O desenvolvimento de políticas e regulamentações específicas, a transparência nos processos decisórios e a garantia da imparcialidade são aspectos-chave para maximizar os benefícios da IAG na justiça. 

A IAG está transformando a forma como a justiça brasileira opera, oferecendo oportunidades significativas para aumentar a eficiência e a eficácia do sistema legal. Todavia, é imperativo abordar questões éticas e desafios associados à essa tecnologia para garantir que a implementação dessas inovações ocorra de maneira ética, transparente e justa.Quer entender mais sobre como a transformação digital está impactando o setor público? Clique aqui e confira uma matéria completa sobre o assunto!

Maurício Seiji

Maurício Seiji

Cientista da Computação com mestrado em Inteligência Artificial pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutorado em Engenharia do Conhecimento pela Universidade Federal de Santa Catarina. Trabalha em projetos de desenvolvimento de software há 28 anos e, atualmente, lidera um time de Inteligência Artificial Aplicada na empresa Softplan. Maurício é professor em cursos de graduação e pós-graduação desde 2003 e, atualmente, é ministra no curso de Inteligência Artificial da PUC do Rio Grande do Sul.

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